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Foi um acidente, pois então acidental, merda, eu cai do céu, essa é a explicação, eu sou uma espécie de anjinho, daqueles destinados a fazer o bem, que tem penas macias e bem grandes, que só sabem sorrir, e que quando choram, conseguem fazer um espetáculo tão maravilhoso, que você simplesmente sorri, de tão bonito que é me ver chorar. Eu sempre acreditei na magia dos humanos, no jeito bonito como eles sabem sorrir depois de dizer aquelas palavrinhas tão bonitas que eles juravam que nunca tinham dito a ninguém. Acreditar na magia das pessoas, mesmo quando elas não são mágicas, lá estava eu prontamente na sua porta com um sorriso bem tímido nos lábios, mas fervorosamente acreditando que você era mais do que, alguns dentes jogados numa boca qualquer.
Eu sempre fui criança e continuo sendo, acho que é isso que me faz ser tão especial, outros dizem ingênua, inocente. Eu acredito nas pessoas, eu confio nelas, eu perdoo elas, mesmo quando eu não devia acreditar nelas, mesmo quando eu supostamente nunca deveria ter confiado, ou mesmo quando a dor é tão imensa e agonizante que nem sequer o próprio deus teria coragem de perdoar, mas eu perdoo. Eu engulo toda a dor, eu me levanto aos poucos, caminho meio desengoçada, sinto que mal posso ficar de pé, mas eu levanto. Eu sempre levantei porque era uma espécia de medida curativa, que eu fazia pra te mostrar que eu sabia que você não fazia por mal, e por isso eu estava ali, de pé, na sua frente, meio acaba, muito feliz, só esperando pra poder dizer ' você é a minha vida ' ou então ' não faz sentido sem você '.
Eu sou um anjinho doente, tão masoquista que as vezes assusta. Eu preciso ouvir coisas ruins, eu preciso ver coisas ruins, eu preciso sentir coisas ruins, mas muito ruins pra desistir de resgatar aquelas pessoas. Eu preciso lutar, mesmo que sozinha, até o momento em que meus joelhos não possam mais me sustentar, só porque quando eu era pequena eu acreditei no amor, no amar, e em você, e num ato tão... apaixonado, eu te prometi zilhões de besteiras, mas uma dessas besteiras não saía de mim, eu tomava banho, passava álcool por fora, por dentro e ela insistia em mim. Ela não ía embora, não saía, eu te ouvi não, eu te chorei sim, eu gritei coisas sem sentido, e mordi travesseiros durante dias pra não distroçar sua cabeça com meus dentes, até que um dia, aquela promessa deixou de ter vontade, de ter força. Imagine pra um anjo, ouvir do objeto da sua feição aquelas coisas ruins, terríveis e cruéis, que a gente só escuta no último capítulo da novela ' eu nunca te amei '. Foi nesse dia, nessa hora, o coração do anjinho deixou de existir, e por mais que a promessa insistisse em permanecer por algum canto do seu corpo, com algumas lágrimas sofridas, e algumas noites mal dormidas ela foi embora. Chovia, forte, e muito, gotas gordas, as lágrimas se misturaram, já devia ter passado das três da manhã, e num suspiro muito mas muito complicado, daqueles que te engasgam e você não sabe se foi o ar, ou a falta dele, aquela promessa foi embora. Era como se agora, respirar tivesse outro sentido.
Enquanto eu estiver respirando, eu vou lutar por nós.
Continuo respirando, mas sem lutar por porra nenhuma que vá me fazer sofrer.
 

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